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domingo, 16 de maio de 2010

Cronômetro: parado ou contínuo? Eis a questão.



Hoje, assistindo ao jogo Fluminense X Atlético-GO, um lance me causou profunda irritação. Bem, na verdade inúmeros lances me causaram profunda irritação, visto que a partida deixou muito a desejar no quesito técnica. Porém um lance mais específico, próximo do fim do primeiro tempo, me causou maior revolta. O time do Fluminense saía com a bola dominada de sua defesa em direção ao ataque. Diguinho domina a bola na altura do grande círculo e estica para Conca na meia esquerda. Antes que a bola chegasse ao argentino, o defensor do Atlético, aparentemente, comete falta em Conca, fica com a bola e imediatamente liga o contra-ataque que quase resulta no gol do Atlético (o lance não foi reprisado na TV mas todos na transmissão concordaram que houve falta). Carlos Eugênio Simon, árbitro do jogo, nada marca. O curioso do lance não foi tanto o erro de arbitragem - isso já deixou de ser curioso faz tempo - o fato inusitado, dessa vez, foi que Simon errou porque simplesmente não estava olhando para o jogo no momento em que ocorreu a jogada. Simon estava mais preocupado em sinalizar para o quarto árbitro, na linha lateral, o tempo de acréscimo para o primeiro tempo.

Mais um argumento contra o bom e velho - extremamente velho - cronômetro contínuo.

Às vezes me pego pensando, procurando argumentos em favor do relógio contínuo no futebol... ...nada! Até acreditaria que a culpa é da minha falta de imaginação, se não fosse a incapacidade das próprias pessoas que o defendem de argumentarem a seu favor. Acho que os dois argumentos que eu mais ouvi ao longo desses anos foram: primeiro, o que eu chamo de "defesa do status quo", que seria algo do tipo "ah! o jogo é assim mesmo" ou então "sempre foi assim, você quer que mude agora pra que?!". O segundo - e, pessoalmente, o meu preferido - eu chamo de "argumento Walt Disney" e fazem parte desse grupo pérolas como "ah! Essa é a magia do futebol" ou "cara, a graça é essa, tem que ter malandragem". Para essas pessoas só tenho uma coisa a dizer, vocês não sabem o que é esporte!

Vamos aos problemas do relógio contínuo. Primeiro, e o mais óbvio, a boa e velha malandragem. Quem foi que nunca sofreu - especialmente em decisões ou jogos de mata-mata onde seu time se encontra atrás no marcador - com a eterna demora para a cobrança de um tiro de meta, ou a simulação de lesões, ou ainda o sumiço dos gandulas e com eles as bolas do jogo?! Eu, como bom tricolor, lembro das decisões da Libertadores e Sul-americana contra LDU. Mais recentemente, o torcedor do Santo André pode pensar na decisão do Paulista e em Paulo Henrique Ganso colocando a bola fora da marca na cobrança de um escanteio só para receber a chamada de atenção do assistente e ter que reposicionar a bola gastando mais tempo (atitude essa que foi aplaudida por jornalistas como Juca Kfouri. Segundo ele, uma demonstração de maturidade e esperteza). Já o torcedor do Inter com certeza se lembrará da cena patética do Leandro - diga-se de passagem, um dos piores jogadores nesse aspecto - se jogando da maca para consumir mais tempo do relógio! E o que dizer dos gandulas? Atuam como soldados sob o comando do dirigente do time da casa. Time da casa está perdendo?! Reposições rápidas para aumentar a velocidade do jogo. Time da casa está ganhando?! Atraso nas reposições, ou então simplesmente desaparecem, e com eles as bolas de jogo. Velhas malandragens que ainda fazem parte do futebol e determinam o rumo de uma partida.

O segundo problema é a subjetividade da regra. Primeiro temos que concordar que quanto maior a subjetividade da regra de qualquer esporte, maiores serão as oportunidades para que indivíduos de má fé interfiram diretamente no resultado final de uma partida. Durante qualquer partida de futebol, só existe um ser em todo universo que sabe quando o jogo irá terminar, e só sabe porque é ele mesmo quem determina quando ele acaba. Pra quem não percebeu ainda, eu estou falando do juiz. A "nova" regra obrigando os juízes a sinalizar o tempo de acréscimo tenta reduzir um pouco essa subjetividade, porém faz apenas isso, reduz. O juiz, ao sinalizar 3 min de acréscimo, por exemplo, está longe de querer dizer que irá terminar o jogo pontualmente aos 48 minutos. Seria mais algo como "irei terminar o jogo, provavelmente, entre 47:45 e 48:15. Isso, é claro, se a bola estiver no meio de campo". Esse tipo de "brecha" na regra não pode existir!

Resumindo, no esporte de alto rendimento, o objetivo sempre será o aprimoramento da técnica, do preparo físico e psicológico. A regra do jogo deveria funcionar como uma espécie de blindagem contra a interferência de fatores diferentes dos três citados acima no resultado final de uma partida. O que sempre espero de um atleta é a capacidade para fazer algo extraordinário, algo que eu nem achava que poderia ser feito por um ser humano. Malandragem e esperteza eu encontro em qualquer boteco carioca e não é isso que eu espero ver em uma partida de futebol. Hoje, o futebol, nas sábias palavras de Vanderlei Luxemburgo, possui "regras arcaicas" e o cronômetro contínuo talvez seja a mais arcaica delas.

Para terminar, deixo vocês com a resposta do maior treinador da atualidade, José Mourinho, para a pergunta feita por Paulo Roberto Falcão sobre qual regra do futebol ele gostaria de modificar:
"O tempo útil. Bola fora, cronômetro parado. Jogador lesionado, cronômetro parado. Bola na arquibancada, cronômetro parado. Gandula esconde bola, cronômetro parado. Assim, o jogo deixaria de ter estas artimanhas que o fazem menos bonito e menos honesto." José Mourinho

Sabe das coisas esse tal de Mourinho, né?!

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